terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O dia em que Iracema conquistou Tarzan

Capa da antologia lançada pela Titan 
Hoje é um dia de comemorações, questionamentos e conclusões. Está certo, vamos deixar as conclusões para outra ocasião e focarmos nos dois primeiros quesitos.

Comemoremos a republicação de The Last of The Guaranys, conto escrito a quatro mãos com Carlos Orsi, numa antologia dedicada ao excelente – e divertidíssimo – escritor Philip José Farmer, desta vez pela Titan Books, uma casa editorial de renome e alcance mundiais. Por causa das tiragens altas da Titan, pode ser que Tales of The Wold Newton Universe transforme essa loucura que mescla Edgar Rice Burroughs com José de Alencar em meu conto mais lido até hoje. Tomara.

A gênese de The Last of The Guaranys está muito bem contada (em detalhes que eu nem recordava) pelo Carlos, em seu blog. Nada há a acrescentar, a não ser que o título, grande sacada do meu parceiro, além de remeter ao clássico de James Fenimore Cooper, também joga com as iniciais do romance Time’s Last Gift, que, segundo a lenda, já era uma piada com Tarzan, Lord Greystoke, mas isso é firula. O importante mesmo, de verdade, é que o conto foi considerado digno de ser publicado no mercado americano uma segunda vez em menos de um ano.

O que nos leva aos questionamentos. E a uma pequena viagem no tempo. Sim, outra. Ei, isto é um texto meu, vão dizer que não esperavam algum paradoxo espaço-temporal?

Há mais de dez anos, pouco antes do lançamento da antologia Intempol, participei de um chat da extinta editora Writers (ou seria da também descontinuada revista Quark? A memória me trai, mas não no que importa), que pretendia antecipar o que hoje é comum em casas editoriais como Draco e Tarja, ou seja, a publicação de obras de autores brasileiros de Ficção Científica, Fantasia, Horror etc. Durante a conversa, quando o assunto versou a respeito de “como alcançar o sucesso escrevendo literatura de gênero” (pois é, isso é assunto recorrente, concordam?), comentei que a saída talvez fosse a publicação no exterior, buscando revistas como a Asimov, a Analog ou a Magazine of SF&F. Não apenas fui rechaçado, como  apresentaram exemplos do tipo “eu, que sou eu, tento há décadas e jamais consegui uma aprovação nessas revistas. O mercado americano é impermeável. Mas vá lá, tente!”.

Achei boa ideia. Pesquisei, procurei, burilei. Tentei. E aí está, não aparecemos nas revistas supracitadas, mas percebo que fomos direto ao pote, saindo pela Titan. Creio também que isso exclui da equação qualquer artifício eticamente questionável e ofensivo como brodagem ou jabá. Prefiro acreditar que conseguimos graças à insistência, ao aperfeiçoamento e ao propósito. Questiono, então: já que autores como Jacques Barcia, Fábio Fernandes, Gérson Lodi-Ribeiro, Carlos Orsi e até eu conseguimos publicar (e, vejam bem, sendo pagos por isso, e não o contrário) no maior mercado do mundo, será que não está na hora de testarmos outra vez essa impermeabilidade? Os Estados Unidos não são mais tão reativos a nós, nossos assuntos, nossos estilos, mesmo escrevendo um gênero tão norte-americano como a Ficção Científica.

Bom, afirmei lá no início que deixaria de lado as conclusões, mas não consigo me furtar a dizer que, daqui de onde observo, parece que todos esses mundos também são, potencialmente, nossos.

Agora, deem licença que o vinho me aguarda.

12 comentários:

Bruno Porto disse...

Krig-ha Guarany, digo, Bandolo!

Octavio Aragão disse...

Oi, Bruno! Legal vê-lo por aqui. :-)

Temáticas Jurídicas disse...

Parabéns, Octavio e Carlos! Notícia fantástica! Conquista merecida! Muito bacana! Um abraço fraterno, H.

Octavio Aragão disse...

Hidemberg! Long time no see, man. Apareça, pois fazes falta.

Jorge Moreira Nunes disse...

Primeiro passo para a conquista do MUNDO! Parabéns, Octa! Gor for it!

Gittowski

Octavio Aragão disse...

Obrigado, Gitto. O mundo talvez demore mais um pouco, mas admito que estou gostando do jogo até agora.

Temáticas Jurídicas disse...

Você é o cara, meu amigo! Grande abraço! H.

Leonardo Peixoto disse...

Algum plano para publicar The Last of the Guaranys em português ?

Octavio Aragão disse...

Leonardo, não podemos publicar The Last of The Guaranys em português por questões contratuais. Até sugeri ampliar o conto em romance, mas nosso editor foi adamantino, para tristeza geral.

sidemar disse...

Ano passado consegui publicar na revista impressa francesa Galaxies meu conto (sempre o tema indígena!...) "Pindorama'. Mas, claro, tive sorte que um autor francês que lê fluentemente em português tivesse acesso ao livro "Contos Imediatos", organizado pelo Causo. O fato é que isso abriu caminho para mim num mercado que desconhecida totalmente - embora eles só queiram novas histórias no 'universo' de Pindorama. (Sid Castro)

Octavio Aragão disse...

Legal, Sid, mas o que pretende fazer em seguida? E, principalmente, qual o seu método de trabalho?

sidemar disse...

Octavio, não sei se chegou a le o 'Pindorama' em Contos Imediatos (Terracota, 2009). Foi meu segundo conto publicado em livro. Teve uma boa repercussão, muitos me aconselharam a desenvolvê-lo para livro, mas não achava que a história tinha potencial para tanto. Mas a ideia ficou. Quando publicado na França, a resposta foi melhor ainda; recebi contatos de escritores e um antalogista (sempre em francês e inglês; mesmo o tradutor só me escrevia em inglês, embora pudesse ler português...). Em todo caso, queriam saber se tinha novas histórias com os personagens no mesmo 'universo' dos índios tupis, ou se eu tinha outros trabalhos. Enviei alguns, como meu conto indicado ao Argos 'Notícias de Marte' (que seria para a tal antologia), mas nada fora do estilo de Pindorama lhes interessou. Então, comecei a desenvolver outros contos naquele universo. Se não publicar aqui, mando para lá. Ou ambos.
Quanto ao método, no caso deste conto, parti da música do Caetano sobre 'um índio que descerá de uma estrela'; criei um conceito FC para a letra da música, assim como para os mitos tupis. Com tema e sinopse definidos, desenvolvi os personagens; a trama foi toda alicerçada a partir de muita pesquisa, antropológica e linguística, mesmo sendo a história passada em outro planeta. Via de regra, sigo este método: tema/conceito, sinopse/personagens; pesquisa para compor a trama; acabamento; e revisão, revisão, revisão...
Minha conclusão é de que o 'exótico indígena nacional' é mais interessante para eles (particularmente na França); e agora estou louco para ler 'The last of the Guaranys'.