quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Sobre arte, moral, ética e instituições privadas

Arte de Don Heck
Falando em censura/auto censura/bloqueio/etc, por conta da exposição de arte erótica suspensa pelo banco Santander, vamos recordar o que aconteceu com as HQs americanas nos anos 50? Pois então, um psiquiatra renomado decidiu achar um bode expiatório para a delinquência juvenil e resolveu culpar as HQ de horror. Montes de HQs foram queimadas, editoras faliram e os outros editores resolveram se auto censurar, criando um "código de conduta" moralizador para suas publicações.

Isso causou um retrocesso danado na indústria das HQ, do qual ela ainda não se recuperou por completo até hoje (sim, apenas agora as majors voltaram a lucrar muito, graças ao cinema, e algumas publicações voltaram ao mercado, como podemos ver nas imagens postadas por Kelley Jones e replicadas aqui nesta postagem). Se toda essa palhaçada moralista do Dr. Wertham tivesse sido tratada com as gargalhadas que merecia, se ninguém tivesse se auto censurado, se as editoras tivessem tido um mínimo de culhão e fincassem o pé, peitando os totalitários de plantão (que incluíam políticos) as coisas poderiam ter sido melhores para todos os envolvidos. Mas eram editoras, empresas que se borraram nas calças de medo de perder leitores, ou pior, cair nas malhas do macarthismo.

Reedições de clássicos da EC
Ou seja, da maneira que vejo as coisas, todo mundo pode dizer o que bem entender. A arte pode ofender, os ofendidos podem reclamar, o empresário pode se borrar todo e quem reclama de quem reclama também pode achar tudo um absurdo e proclamar sua raiva contra a suspensão da publicação/exposição. 

Agora, o que eu acho? Acho que empresas têm a terrível tendência moralista de se acovardar diante dessas ameaças financeiras. Aí, me vem à cabeça a coragem do Charlie Hebdô em se manter aberto e funcionando mesmo depois de ter sofrido um ataque terrorista e seus membros assassinados dentro da redação. Pagaram um preço alto por suas posturas (que muita gente, incluindo eu mesmo, acho questionáveis, mas nem por isso acho aceitável que alguém seja morto por causa disso).

O Dr Wertham estava correto? Não. Ele podia começar uma caça às bruxas? Ele achava que sim e tinha todo um estudo embasando suas teorias. As editoras poderiam sentir medo? Claro, como empresas tinham todo o direito de temer por seu prejuízo. Deveriam ter feito o que fizeram? Não (e a História prova que não mesmo).

Não parece familiar, respeitando as devidas proporções?

O medo é o assassino da mente, amigos. E aí reside o problema.

Um comentário:

Leonardo Peixoto disse...

O medo também é o assassino da liberdade .